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Veículos ajudam a sustentar o crescimento

A recuperação da venda de veículos reflete o início do alívio monetário e ajuda a sustentar o crescimento em 2024.

Roberto Padovani
30 de janeiro 2024

O mercado de veículos tem sido um importante canal de transmissão de política monetária. Dado seu tamanho e exposição ao crédito, variações na taxa básica de juros impactam as vendas e contribuem para que o Banco Central controle as oscilações agregadas no consumo e na inflação.

De fato, além da renda real e da confiança, a taxa de juros está presente em todos os modelos que explicam o comportamento das vendas de veículos novos e usados. Variações na taxa básica de juros afetam defasadamente o spread bancário e o custo de financiamento em um mercado com um perfil mais de consumo que de investimento, dada a participação pequena de veículos pesados em relação ao total negociado. Em particular, os juros ao tomador final para aquisição de veículos são altamente correlacionados com a taxa básica.

Justamente por isso, o comportamento das vendas de veículos é um bom termômetro do ciclo monetário e das condições de crédito, havendo elevada correlação entre vendas e PIB. Em momentos de alta de inflação e juros, a tendência é que haja maior inadimplência e queda da renda real e da confiança, desacelerando o crédito, as vendas de veículos e o consumo. Quando a inflação desacelera, os juros e a inadimplência se reduzem e reaquecem os mercados de crédito e de veículos, favorecendo a economia como um todo.

A pandemia foi um choque que fez com que os movimentos de juros, renda e confiança ficassem desencontrados, dificultando a leitura de mercado. Mesmo assim, os juros mantiveram sua relevância. Em 2020, apesar da alta na renda real e do corte nos juros, a confiança mostrou queda e levou a uma retração na venda de veículos. Em 2021, houve uma expressiva recuperação do crédito e das vendas na esteira dos efeitos defasados dos estímulos monetários e da volta da confiança, mais que compensando o aumento da inflação e a queda da renda real.

Em 2022, embora a confiança e a renda estivessem em alta, o aperto monetário e as restrições na oferta de insumos, pressionando preços de automóveis, esfriaram o mercado. O cenário começou a ficar mais claro a partir do ano passado, com a normalização da produção e com movimentos conjuntos de renda, confiança, inflação e juros voltando a ocorrer na direção esperada.

Com menos choques, o mercado de veículos reforçou os canais de transmissão de política monetária, permitindo que o recuo moderado dos custos de produção e financiamento levasse a uma recuperação das vendas.

É o que mostraram os números da Fenabrave para a comercialização de motos e veículos leves e pesados em 2023. Não apenas as vendas de novos e usados voltaram para o patamar de 18 milhões de antes da pandemia, mas o comportamento dos preços também foi positivo. Depois de altas entre 20% e 40% em 2021 e 2022, os números da Fipe já oscilam ao redor de 3,0%. Pelo IPCA, há deflação em usados.

Este quadro de retomada deverá ser mantido em 2024. Inflação mais baixa e mercado de trabalho ainda apertado preservam a renda real, da mesma forma que juros menores melhoram as condições financeiras das famílias e favorecem a confiança.

Adicionalmente, a estabilidade da economia brasileira é um incentivo para que a parcela de vendas financiadas mostre alta e o fato de os preços de veículos novos ainda estarem elevados favorece a manutenção da tendência de alta nas vendas de usados dos últimos 20 anos.

Este cenário mostra que a política monetária vem funcionando como o esperado. Mesmo com ciclos diferentes no crédito para famílias e empresas, o Banco Central teve sucesso em controlar a atividade em 2020 e a inflação a partir de 2022.

O momento agora é de alívio monetário e recuperação do crédito e do consumo. Além do recuo da inadimplência das famílias, queda nos spreads bancários e redução do endividamento e comprometimento de renda, o mercado de veículos é mais um indicador que reforça a recuperação do mercado de crédito.

Tudo sugere, portanto, que a política monetária irá agora atuar na sustentação do crescimento, compensando parte da redução dos impulsos gerados pelo agronegócio e pelo mercado de trabalho. O desempenho do mercado de veículos em 2023 é uma boa notícia para este ano.

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