O segundo trimestre do ano foi marcado pela perda de credibilidade nos instrumentos de gestão econômica em um contexto global mais adverso.
Roberto Padovani
25 de junho 2024
O segundo trimestre do ano foi carregado de eventos econômicos e políticos relevantes. Abril, maio e junho foram meses marcados pela perda de credibilidade nos instrumentos fiscais e monetários domésticos em um contexto global de maiores incertezas. O resultado foi a mudança de patamar de câmbio, juros e bolsa no Brasil.
Do ponto de vista externo, o aumento da tensão geopolítica no oriente médio em abril reforçou um ambiente de maior cautela financeira observado desde o início do ano por conta da condução monetária nos Estados Unidos.
Superados os choques favoráveis em alimentos, energia e bens industriais de 2023, a inflação norte-americana interrompeu a trajetória de queda e vem oscilando ligeiramente acima do patamar de 3,0%. A chamada última milha passou a exigir um esforço adicional para garantir a convergência da inflação, trazendo instabilidade nos mercados de juros.
Mais que o quadro global, no entanto, o descolamento da moeda brasileira em relação a seus pares emergentes indica que o problema central é doméstico. A mudança das metas fiscais em abril e a preocupação com a interferência política na gestão monetária gerada pela divisão na decisão do Copom de maio foram gatilhos para uma piora do sentimento dos investidores.
Em junho, a reação da sociedade e do Congresso à estratégia de ajuste fiscal baseado na receita elevou as dúvidas em relação à capacidade técnica e política de se controlar as contas públicas.
Com isso, a confiança na capacidade de o país administrar a economia se reduziu nos últimos meses. Mais importante, a perda de confiança dificilmente será revertida nos próximos meses.
Por um lado, as tensões financeiras e econômicas restringem as escolhas do governo, limitando os discursos ideológicos e incentivando maior pragmatismo. A lógica é que em situações de maiores restrições, erros de gestão tendem a ser mais penalizados. A piora nas condições financeiras, por sua vez, reduz o consumo e a popularidade do governo, incentivando a correção de rumos.
Foi o que se observou nas últimas semanas. A tensão no mercado cambial acionou uma rápida reação do governo, baseada na sinalização de controles incrementais da despesa e na cautela na gestão monetária, com o Banco Central pausando de modo consensual o ciclo de afrouxamento monetário.
O problema, no entanto, é que é difícil dizer se a mudança de postura do governo se deve a uma resposta oportunista de curto prazo às tensões de mercado ou se há, efetivamente, uma reorientação na estratégia de política. As informações são assimétricas.
Depois de vários meses de uma agenda marcada por ataques ao Banco Central, intervenção em estatais e defesa de aumento de gastos e de contrarreformas, será difícil diferenciar a gestão econômica daquela observada no período populista, entre 2006 e 2014.
Com menor credibilidade, as incertezas se ampliaram, reforçando a saída de recursos financeiros e levando câmbio, bolsa e juros a novos patamares. Este quadro não implica uma crise, dado que o crescimento local tem se mostrado resistente a choques. As reformas dos últimos anos, o desempenho do setor exportador e o mercado de trabalho sustentam a economia.
O trimestre, porém, reverteu o otimismo presente em 2023, momento de maior confiança na queda dos juros internacionais e no controle das contas públicas no Brasil. Com problemas de credibilidade na gestão econômica, a instabilidade financeira veio para ficar, produzindo um novo equilíbrio econômico, de pior qualidade.