Roberto Padovani
06 de agosto 2024
Diante da turbulência nos mercados financeiros globais nos últimos dias, é natural avaliar quais respostas de política econômica podem ser observadas no Brasil.
Sem alterações substanciais do quadro econômico que justifiquem os movimentos financeiros recentes, uma hipótese é que a instabilidade externa seja temporária e explicada por fatores difusos. Estaria em curso uma mudança de estratégia e correção de preços gerada por dúvidas em relação ao crescimento global, ao cenário político norte-americano e aos impactos da alta de juros no Japão.
Ainda que não se saiba quão duradoura possa ser a volatilidade dos mercados e seus impactos sobre riqueza e condições financeiras, o que parece claro é que os bancos centrais tendem a reagir a cenários mais negativos. Há espaço para uso da política monetária de forma contracíclica.
Ao final, o que se espera é um quadro em que a política monetária norte-americana tenha tido sucesso em promover a desaceleração econômica e permitir a convergência da inflação. Neste caso, os juros poderiam gradualmente voltar para seus patamares de equilíbrio.
Este cenário não necessariamente conduz a um novo ciclo de aperto monetário no Brasil, embora o aumento da aversão a risco global no curto prazo pressione as moedas dos mercados emergentes.
Caso se confirme um quadro de desaceleração externa, queda dos juros internacionais e um dólar globalmente menos valorizado, os preços de matérias primas podem sustentar a tendência de queda, evitando novas pressões inflacionárias.
Supondo que o choque externo seja temporário, é possível que o Banco Central (BC) mantenha a taxa básica nos patamares atuais. Seria um movimento compatível com o que tem sido observado nos últimos anos. Desde que o Brasil acumulou reservas nos anos 2000, evitando choques cambiais e inflacionários em momentos de aversão a risco global, a política monetária local passou a acompanhar os ciclos monetários dos países desenvolvidos.
O risco da economia brasileira, da mesma forma, parece controlado no curto prazo. As reformas feitas a partir de 2016, o bom desempenho do setor exportador e os baixos níveis de desemprego fazem com que o crescimento seja mais resistente a choques, reduzindo a probabilidade de turbulências financeiras e políticas.
Neste caso, um cenário de redução de juros internacionais e manutenção das taxas domésticas favorece a ancoragem do câmbio.
O principal risco para a política monetária continua sendo a resposta fiscal. Um quadro de desaceleração global pode elevar a ansiedade política e incentivar a manutenção de estímulos por mais tempo que o necessário
Ajuda, no entanto, o fato de as restrições de mercado limitarem as escolhas do governo, como já se observou nas últimas semanas. Seja como for, o choque externo não necessariamente muda o desafio do BC. Será preciso ancorar as expectativas de inflação em um cenário de baixa confiança na gestão fiscal e monetária.