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Volta do emprego pode ser lenta

Jun/17 - Fechamento de empresas, recuperação da produtividade e incertezas ainda elevadas fazem com que a recuperação da economia possa ser acompanhada por uma volta lenta no emprego

Fechamento de empresas, recuperação da produtividade e incertezas ainda elevadas fazem com que a recuperação da economia possa ser acompanhada por uma volta lenta no emprego

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Mudanças estruturais na economia, avanços na produtividade, custos trabalhistas e incertezas atrasarão criação de vagas (Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília/Creative Commons)

Mesmo que a economia brasileira supere a recessão e volte a crescer, poderão ser necessários muitos anos até que a taxa de desemprego recue para sua média histórica de 9,0%.

A intensidade da atual recessão já é um fator novo e importante. Como a ociosidade do mercado de trabalho e da economia oscila de modo conjunto, o atual ritmo de recuperação sugere que o crescimento potencial demore a ser alcançado e, com isso, a taxa de desemprego possa ainda oscilar acima de sua média histórica pelos próximos anos.

Mas é possível que a recuperação do emprego seja ainda mais lenta que a sugerida pela simples retomada econômica. Estes cenários de recuperação lenta do mercado de trabalho, conhecido como jobless recovery, podem ser explicados por diversos fatores, como mudanças estruturais na economia, avanços na produtividade, custos trabalhistas elevados e incertezas em relação à solidez da retomada.

Do ponto de vista estrutural, a crise financeira e os investimentos excessivos associados ao último ciclo de expansão levaram, neste momento, ao fechamento de empresas e à perda de capacidade produtiva. A economia brasileira ficou menor e muitos postos de trabalho, criados entre 2004 e 2010, simplesmente deixaram de existir.

Outro candidato para explicar uma reação mais lenta do mercado de trabalho é a produtividade. Quanto maior o espaço para a recuperação da produtividade, que ciclicamente acompanha o início das recuperações, maiores também as chances que a produção volte a aumentar sem que haja necessidade de novas contratações.

Pode ser este o caso do setor de serviços, um dos mais relevantes para o PIB. Como houve relativa rigidez nos salários e os ajustes no emprego foram moderados, o produto por trabalhador mostrou queda.

Produtividade.

Este movimento é explicado pela retenção de parte dos trabalhadores durante a recessão, o chamado labor hoarding. Com um desempenho econômico relativamente melhor do setor de serviços, interesse em preservar investimentos em treinamento e qualificação e receio que salários menores reduzissem ainda mais a produtividade, os empresários foram incentivados a manter parte do quadro de funcionários. Neste caso, há agora espaço para que produção aumente por meio da recuperação da produtividade, sem a necessidade de contratações.

Já na indústria, a cautela do empresário parece ser um fator importante. Nas fases iniciais dos ciclos de expansão, a confiança na solidez e no ritmo da recuperação é normalmente frágil. No caso brasileiro, essa insegurança pode ser reforçada pelas frustrações recentes com a capacidade de o País superar a recessão, por custos trabalhistas elevados e pelo prolongamento da crise política.

De fato, o ajuste no emprego industrial foi maior que o corte na produção, fazendo com que os salários mostrassem quedas importantes e a produtividade alcançasse patamares historicamente elevados. Com produtividade já elevada, faria sentido supor que aumentos na produção a partir de agora pudessem ser acompanhados por novas admissões.

Porém, como os números de horas trabalhadas na indústria estão abaixo do padrão histórico, o empresário tende a ser cauteloso e recuperar a produção por meio da utilização mais intensa da mão de obra já empregada. Novamente aqui, a recuperação pode não ser acompanhada por aumentos no emprego.

A reforma trabalhista poderia atenuar a crise, tornando o mercado de trabalho mais flexível e reduzindo seus custos. Mas a atual paralisia no Congresso, a destruição do estoque de capital físico em curso, o aumento da produtividade e a cautela dos empresários são fatores que, somados, parecem postergar a criação de vagas.

Portanto, os sinais de iniciais de recuperação da renda e do emprego formal ainda não permitem construir um cenário favorável para o mercado de trabalho. Mesmo que a economia caminhe em direção ao potencial ao longo dos próximos dois anos, as taxas de desemprego podem continuar acima de sua média histórica por um período ainda maior de tempo.

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