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Maio/17 - A tensão política tem gerado danos moderados na confiança de investidores e empresários, mostrando que a crise econômica continua sendo vista como um incentivo para mudanças

A tensão política tem gerado danos moderados na confiança de investidores e empresários, mostrando que a crise econômica continua sendo vista como um incentivo para mudanças

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Presidente Michel Temer: mesmo com instabilidade política causada por denúncias de Joesley Batista, da JBS, mercados continuaram tranquilos (Foto: Beto Barata/PR/Creative Commons)

Temos vivido dois mundos diferentes nos últimos dias. A tensão entre políticos e analistas em Brasília se contrasta de modo quase chocante com a relativa tranquilidade dos mercados financeiros.

Isso pode parecer estranho, mas faz sentido. Três motivos explicam a calma dos investidores. O primeiro é que o ambiente global favorável atenua os impactos da crise doméstica. O segundo motivo é a crença na superação rápida da crise. Finalmente, há confiança em um cenário em que a agenda econômica seja preservada.

O ambiente externo sempre exerceu grande influência nos mercados financeiros domésticos. Não tem sido diferente agora. Ao longo do segundo semestre de 2015, por exemplo, a tensão política e econômica local foi reforçada por um quadro internacional difícil, com a desaceleração na China derrubando preços de commodities e espalhando o medo entre os investidores.

Agora, opostamente, o crescimento e a liquidez globais fazem com que a volatilidade das bolsas internacionais se encontre em um de seus patamares mais baixos das últimas décadas. Mesmo com riscos domésticos em alta, os investidores se mostram relativamente confortáveis com a situação e ainda interessados nas oportunidades oferecidas pela economia brasileira.

IRMÃS.

Mas as questões locais também importam. Os últimos meses provaram a tese de que economia e política caminham juntas. Isso significa, em termos práticos, que a manutenção das indefinições atuais por muito tempo faz com que todos percam, o que é um incentivo para se evitar uma escalada da crise.

De fato, a inesperada perda de apoio de parte do establishment foi um duro golpe em um governo já fragilizado pelo baixo crescimento e escândalos de corrupção. Como resultado, o capital político necessário para coordenar a coalização no Congresso e aprovar reformas, que já se mostravam difíceis, foi reduzido. Sem reformas, menores são as chances de se estabilizar o ambiente político e econômico, prejudicando as próprias condições de governabilidade.

Portanto, quanto mais longa a duração da crise política, menores as chances das reformas avançarem e piores as expectativas em relação à dinâmica da dívida pública, gerando impactos negativos sobre confiança, câmbio, inflação, juros, crescimento e desemprego. Com menos crescimento, as incertezas políticas se elevam e novamente aumentam a imprevisibilidade econômica, criando uma espiral negativa entre economia e política.

Em particular, a continuidade de um cenário recessivo eleva as dúvidas em relação ao ciclo político de 2018, potencializando as incertezas de curto prazo. Por último, a experiência sul-americana também ensina que a combinação de recessão com corrupção normalmente resulta em protestos e ruptura política. Combinados, estes fatores aumentam o senso de urgência em Brasília. É exatamente o que tem sido visto nos últimos dias.

Além da percepção de que há incentivos para uma solução rápida da crise, há bons argumentos para se acreditar que a agenda econômica será preservada. A teoria econômica e a experiência internacional mostram que mudanças mais difíceis nos regimes econômicos ocorrem quando o custo de não mudar é mais alto que o de mudar.

Foi o que vimos e continuamos vendo no Brasil. As elevadas taxas de desemprego têm feito com que o desconforto social gere menor tolerância com privilégios e uma demanda urgente por mudanças, pressionando o Congresso e os políticos por ações que reduzam o desemprego. Ao contrário do que se acreditava, a baixa popularidade do governo não impediu que o Brasil avançasse nas reformas.

Da mesma forma, o ciclo de commodities limita as escolhas políticas para se estimular o crescimento. Confirmando a experiência latino-americana, a tendência de queda dos preços de commodities gera restrições externas e reduz o espaço para o populismo fiscal e monetário. Sem um ciclo externo favorável e receitas tributárias em alta, a dinâmica da dívida não permite outra alternativa que não reformar a estrutura de gastos de governo.

Não menos importante, os fundamentos econômicos e institucionais seguem avançando, a despeito da instabilidade política. A busca pelo equilíbrio das contas públicas contribui para a queda duradoura da inflação e dos juros, trazendo resultados concretos em termos de confiança, investimento e crédito. Os primeiros sinais de que a recessão pode ser superada, por sua vez, ajudam a construir o consenso em torno de uma agenda econômica arduamente desenhada ao longo dos últimos meses. 

Todos estes fatores contribuem para se acreditar em um cenário em que a crise possa ser rapidamente superada, a política econômica seja preservada e as reformas continuem avançando, apesar dos atrasos.

É verdade que a imagem da “pinguela” nunca pareceu tão apropriada. A baixa popularidade do governo, gerada pela lenta retomada econômica e escândalos sequenciais, deixa o cenário propenso a acidentes e mantém as incertezas elevadas.

Mas estamos também aprendendo muito sobre o País. Os últimos meses mostraram que há motivos concretos para se acreditar na manutenção da responsabilidade econômica. É por isso que, desta vez, os mercados financeiros se mostram coerentemente serenos e otimistas, acreditando que o jogo vai continuar.

 

 

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