Desaceleração global, queda dos juros internacionais, crescimento local e aumento da dívida são os principais temas econômicos dos próximos anos.
Roberto Padovani
03 de setembro 2024
Há quatro temas correntes na economia global e doméstica que devem ter continuidade ao longo dos próximos anos, condicionando os cenários econômicos.
O primeiro tema é a desaceleração global, principalmente na Ásia. A China mostra um crescimento a ritmo decrescente ao longo da última década. Com encarecimento da mão de obra, crise imobiliária e incertezas geopolíticas, a expectativa é que este processo tenha continuidade.
Ao mesmo tempo, Europa e Estados Unidos devem apresentar uma desaceleração cíclica, reforçando um quadro de menor demanda global e, com isso, sustentando o canal de baixa de preços de matérias primas observado nos últimos anos.
A segunda história, de mais curto prazo, é o movimento de redução dos juros internacionais. Tantos os Estados Unidos devem começar o processo neste mês, quanto a Europa poderá dar continuidade ao ciclo já iniciado.
Como consequência, as condições globais de liquidez devem ser preservadas, favorecendo os fluxos de capitais para os mercados emergentes e ajudando o Brasil a ancorar sua moeda.
O resultado eleitoral norte-americano pode alterar as intensidades destes movimentos. Estímulos fiscais, fechamento comercial e políticas anti-imigratórias podem reforçar a desaceleração na China e limitar o ajuste da inflação e dos juros nos Estados Unidos. O resultado seria um quadro global mais acidentado.
O terceiro tema é local. A economia brasileira vem mostrando ao longo dos últimos 5 anos surpresas continuamente positivas no crescimento. O voo de cruzeiro tem sido ao redor de 3,0%. As possíveis explicações para isso são as reformas feitas entre 2016 e 2021, o excelente desempenho do setor exportador e um mercado de trabalho apertado, com taxas de desemprego em suas mínimas históricas.
Combinados, estes fatores têm tornado a economia brasileira mais resistente a choques, ajudando a sustentar o crescimento e, com isso, reduzindo o risco de crises políticas e financeiras. Com um ambiente mais estável e previsível, cria-se um círculo virtuoso que age no sentido de manter a atratividade do país.
A última história, é local e negativa. A preferência política pela expansão fiscal, a ausência de reformas que mudem a estrutura de gastos do Estado, os limites para aumentos da carga tributária, eleições competitivas e fragilidade das regras fiscais sugerem uma tendência de alta da dívida pública.
Este cenário possui um duplo efeito sobre os níveis de equilíbrio de inflação e juros. Por um lado, os preços internacionais de commodities ajudam a controlar a inflação. Por outro, os estímulos fiscais prolongados elevam o risco inflacionário pelos canais de atividade e risco, gerando alguma pressão cambial.
Com um banco central independente e menos tolerante com inflação, a tendência é não apenas um aumento cíclico da taxa básica, mas juros de equilíbrio mais elevados.
Portanto, desaceleração global, redução dos juros internacionais, maior resiliência do crescimento local e aumento da dívida pública doméstica serão as principais histórias dos próximos anos, construindo o contexto em que as empresas irão navegar.