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Eleição de 2018 não será risco relevante

Mai/17 - A despeito do aumento da competitividade eleitoral em 2018, o crescimento econômico deve permitir queda do risco político

A despeito do aumento da competitividade eleitoral em 2018, o crescimento econômico deve permitir queda do risco político

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Eleições 2014 – Dia de votação no Centro de Ensino Médio Ave Branca (CEMAB) em Taguatinga, Distrito Federal (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado/Creative Commons)

Do ponto de vista do mercado financeiro e da construção de cenários, as eleições de 2018 devem ser pouco relevantes. Esta não é uma visão intuitiva. Eleições presidenciais são eventos importantes, principalmente após o País viver tensões políticas agudas de modo ininterrupto desde 2013. Além disso, os escândalos de corrupção implodiram o sistema político e as primeiras pesquisas eleitorais sugerem elevada pulverização, competição e risco.

Os sinais de superação da recessão, no entanto, devem reduzir o risco político. Embora a relação entre economia e política não seja mecânica, muito menos exclusiva, as condições de renda e bem-estar vêm explicando muito bem o ambiente político até agora. De fato, a piora do quadro econômico elevou a competitividade política em 2014, contribuiu com o processo de impeachment em 2016 e serviu de incentivo para o avanço das reformas no novo governo.

A hipótese simplificadora de que o risco político seja endógeno ao desempenho da economia tem suporte em três diferentes modelos teóricos sobre governabilidade/competitividade eleitoral, escolhas de políticas e avanço de reformas.

O primeiro modelo é o do presidencialismo de coalizão, indicando que a correlação entre renda, corrupção e popularidade explica as condições de governabilidade e competitividade eleitoral. Este modelo permitiu uma boa leitura do risco político no período de 2013 a 2016. Enquanto a desaceleração econômica reduziu a popularidade do governo Dilma e produziu uma eleição competitiva em 2014, o colapso econômico de 2015 e 2016, associado a escândalos de corrupção, levou a uma aguda crise de governabilidade.

Chama atenção neste caso o fato de o Brasil ter confirmado o padrão histórico sul-americano de instabilidade dos regimes presidencialistas, segundo o qual momentos de tensão econômica associados a escândalos de corrupção levam a amplos protestos populares e à perda de apoio do establishment, conduzindo às quedas presidenciais.

O segundo modelo mostra que os ciclos de crescimento globais condicionam as escolhas de políticas públicas. Na América do Sul, em particular, fases favoráveis dos ciclos tendem a incentivar políticas populistas e pouco responsáveis, normalmente baseadas em expansão fiscal, controle de tarifas públicas e tolerância com inflação. Em momentos desfavoráveis, em parte reforçados pelas crises geradas pelos excessos anteriores, há uma demanda por austeridade e responsabilidade. Não por outro motivo, a condução de política econômica sofreu uma guinada importante a partir de 2015.

Finalmente, a teoria econômica oferece modelos que explicam o avanço de reformas. A ideia geral é que mudanças mais difíceis de regime econômico têm mais chances de ocorrer quando o custo de não mudar é mais alto que o de mudar. Na prática, o desemprego elevado faz com que a maioria, normalmente silenciosa, se mostre menos tolerante com os privilégios defendidos por grupos de pressão organizados.

CICLOS POLÍTICOS.

Na crise atual, este modelo parece complementar ao do presidencialismo de coalizão. Apesar dos baixos índices de popularidade do governo, as tensões econômicas e políticas explicam a boa capacidade de coordenação da base política no Congresso e o excelente desempenho legislativo dos últimos meses.

Em seu conjunto, estes modelos permitem algumas leituras do ciclo político dos próximos anos. A primeira é que o grau de competitividade das eleições presidenciais de 2018 irá depender em grande medida do desempenho da economia. A continuidade de um quadro recessivo eleva a insatisfação popular contra o sistema político e favorece opções populistas e radicais. Neste caso, o risco político poderia se elevar.

Mas a queda da inflação e da taxa de juros, além da recuperação de parte da confiança de empresários, consumidores e investidores, permite que a recessão seja superada. Os indicadores já mostram números mais favoráveis de consumo, produção e investimento, reforçando a leitura de uma recuperação cíclica. Com isso, o risco político deve se mostrar controlado mesmo em um ambiente de elevada pulverização eleitoral, aparecimento de nomes não tradicionais e polarização ideológica. Em um ambiente de retomada econômica, dificilmente partidos com discursos radicais, sem estrutura e sem apoio da classe média e do establishment serão competitivos.

A segunda leitura é que, independentemente da corrida presidencial do próximo ano, há incentivos para que gestões responsáveis continuem sendo adotadas. Por um lado, os escândalos políticos fazem com que a volta do crescimento seja fundamental para evitar novas crises de governabilidade. Mas na ausência de espaço fiscal e de um quadro de euforia e exuberância global, as escolhas de políticas que estimulem o crescimento ficam limitadas a manter a agenda de reformas e a responsabilidade na gestão macro e microeconômica.

Portanto, a despeito das incertezas e da competitividade esperada para 2018, a recuperação gradual da economia reduz o risco eleitoral, ao mesmo tempo em que incentiva a manutenção de uma agenda responsável.

Por este aspecto, a eleição pode ser um não evento, com a montagem de cenários dependendo de temas menos extremos e binários. Possivelmente, os investidores voltarão a discutir questões econômicas mais corriqueiras, como a alta de juros nos Estados Unidos e a evolução do quadro fiscal brasileiro.

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