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Economia ou política: duas visões sobre as eleições

Dez/17- As diferentes avaliações sobre o risco político dependem em grande medida da importância que se atribua à retomada econômica. Visto de hoje, os riscos parecem subestimados

As diferentes avaliações sobre o risco político dependem em grande medida da importância que se atribua à retomada econômica. Visto de hoje, os riscos parecem subestimados

Pesquisas de intenção de voto continuam mostrando elevada polarização e fragmentação do centro, com discursos populistas de esquerda e de direita (Foto: TRE-RJ)

O fato de não se saber como a população irá perceber a volta do crescimento econômico e qual o peso atribuído a ele tem dificultado a antecipação do resultado da eleição presidencial do próximo ano, sugerindo cautela na montagem de cenários.

Do ponto de vista da dinâmica política de 2018, não apenas a retomada da economia importa, mas é preciso saber se ela será percebida como forte o suficiente para compensar a frustração com a recessão e a crise de credibilidade do sistema político-partidário gerada pelos escândalos de corrupção após 2014.

Diante deste quadro, é possível resumir as avaliações dos analistas políticos em duas visões principais, conforme o peso que se atribui à recuperação econômica.

Na primeira, a economia importa menos. Mesmo que o crescimento econômico seja confirmado, não seria suficiente para reverter a rejeição ao sistema político. Com isso, a piora na avaliação do governo, afetada pelos escândalos; a perda de espaço de políticos e partidos tradicionais, com a procura por nomes novos; e a demanda por mudanças que resgatem o bem-estar econômico, em particular o experimentado pelo último ciclo de commodities, não seriam movimentos temporários.

Neste ambiente, a estrutura partidária e o tempo de televisão teriam papel secundário. Além da importância crescente das mídias sociais e de menores recursos para campanhas, as retóricas simplistas e raivosas teriam sucesso em capturar o sentimento disseminado de frustação, fazendo com que as lideranças populistas atraíssem o sistema político, opostamente ao que seria esperado.

Algumas evidências favorecem esta leitura. Embora para a maior parte dos economistas a recuperação da economia já seja algo definido, para a população este sentimento parece não estar difundido. Mesmo com maior confiança no futuro, a retomada tímida da renda real não tem levado os consumidores a fazerem uma melhor leitura da situação atual. O emprego informal gera maior volatilidade da renda e, com isso, maior insegurança.

Da mesma forma, os baixos níveis de aprovação do governo, principalmente após a crise de maio, mostram descolamento atípico da economia e sugerem que apenas o crescimento pode não bastar para influenciar o quadro político. Há certa inércia na avaliação dos eleitores.

Neste cenário, as atuais pesquisas de intenção de voto seriam um bom indicador do resultado da eleição e continuariam mostrando elevada polarização e fragmentação do centro, com discursos populistas de esquerda e de direita.

É um quadro que poderá assustar empresários e investidores, tornando a economia brasileira ainda mais vulnerável a choques externos. A lógica do populismo faz com que os debates sejam repetições emotivas de palavras de ordem, sem espaço para a defesa da racionalidade econômica, como propostas sensatas para se elevar a produtividade ou se resolver a crise fiscal. Ainda que alguma demagogia seja natural, as experiências recentes de Estados Unidos e Reino Unido mostram os riscos efetivos do populismo. O problema é que o risco político cria um círculo vicioso entre política e economia, realimentando o próprio radicalismo.

Segundo cenário. A visão alternativa parece contar com mais adeptos entre os investidores e atribui à economia papel importante na dinâmica política. Com o comércio sendo um bom termômetro das condições econômicas e, historicamente, mostrando elevada correlação com os índices de aprovação do governo, é possível que o fim da recessão reduza os níveis de rejeição ao sistema político. Em um contexto de maior tolerância, tanto o centro político, com discursos mais conciliadores, quanto a estrutura partidária podem ganhar relevância, principalmente porque esta não é uma eleição solteira.

A favor deste cenário há o fato de as pesquisas mostrarem a população mais sensível aos temas econômicos. Neste caso, a economia pode efetivamente ser um grande eleitor, uma vez que há consenso de que o crescimento seguirá seu curso, a despeito das dúvidas sobre o ritmo. Inflação e juros baixos devem manter nos trilhos a recuperação da renda, favorecendo a normalização da confiança e do consumo, a parte mais visível do crescimento econômico. Com isso, a percepção de crescimento pode estar bem mais clara no terceiro trimestre de 2018 e levar a uma menor rejeição aos políticos tradicionais.

Sinais deste cenário são a queda já observada dos índices de rejeição dos principais candidatos, alguma recuperação dos níveis de aprovação do governo e o fato de os escândalos recentes não terem conduzido o País a uma nova crise aguda de governabilidade.

Ao contrário do primeiro cenário, aqui as pesquisas de intenção de voto não seriam bons indicadores da competitividade eleitoral, mudando à medida que a aceleração do consumo traga maior conforto econômico. A insatisfação de parte da população seria, neste caso, temporária.

No entanto, mais que avaliar preferências ou a probabilidade de cada uma destas duas visões, a discussão mostra que apesar da importância do papel da economia na dinâmica política, fatores puramente políticos precisam ser considerados. Será preciso entender a demanda da sociedade, manifestada pela percepção subjetiva de temas como crescimento e corrupção, além do peso também subjetivo atribuído a cada um deles.

Como os indicadores não trazem respostas conclusivas a estas questões, além das próprias incertezas associadas ao quadro econômico e seus impactos sobre o ambiente político, fica difícil formar convicções fortes sobre os cenários. Com informações precárias, os riscos políticos vistos de hoje parecem subestimados.

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