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Dois temas dominam 2023

Os próximos meses deverão ser marcados por turbulências globais e pelo desafio de o País resistir aos choques externos.

Os próximos meses deverão ser marcados por turbulências globais e pelo desafio de o País resistir aos choques externos

As turbulências globais e a capacidade de o Brasil resistir aos choques externos são temas já presentes no debate e que irão marcar o ambiente econômico dos próximos meses.

O quadro externo deverá ser negativo em 2023. Com inflação e juros em alta no mundo, as condições de renda, riqueza, confiança e crédito mostram piora e reforçam a desaceleração global em curso.

Além disso, o ambiente continua sendo instável e pouco previsível. Os baixos níveis de inflação observados na Europa e nos Estados Unidos ao longo das últimas décadas dificulta estimar e antecipar a reação dos bancos centrais. Sem saber qual o nível adequado dos juros básicos e
como será feita a retirada de liquidez (quantitative tightening), os impactos sobre crédito e crescimento são desconhecidos. Da mesma forma, as tensões geopolíticas se acumulam na Europa e na Ásia, elevando as incertezas e fazendo com que o cenário seja propenso a acidentes.

Como resultado, parte relevante do próximo ano será dominado pelo tema negativo da perda de fôlego do crescimento internacional. Depois da forte recuperação em 2020 e 2021, o mundo vive uma nova fase do ciclo econômico e a discussão será sobre a intensidade deste
processo.

Neste contexto, a capacidade de o Brasil resistir a choques externos adversos acompanhará o debate dos próximos meses. Embora a economia e os mercados financeiros locais sejam historicamente influenciados pelos ciclos globais e faça com que os impactos de um cenário
negativo sejam inevitáveis, a novidade é que o País parece mais preparado para enfrentar as turbulências.

De fato, o Brasil tem mostrado avanços institucionais. Além do programa de concessões e das reformas trabalhista e previdenciária, a independência formal do Banco Central e os novos marcos regulatórios em setores como gás e saneamento foram mudanças relevantes.
A reforma trabalhista pode estar beneficiando a formalização da mão de obra e reduzindo a insegurança jurídica, o que ajuda o emprego. As novas regras da previdência e a autonomia do Banco Central elevam a estabilidade e previsibilidade da economia, enquanto os marcos
regulatórios atraem investimentos.

Do ponto de vista político, o fato de o mundo financeiro e de negócios ter acompanhado com relativa tranquilidade a corrida presidencial explicita certo amadurecimento institucional. A experiência desde a redemocratização trouxe aprendizados e mostra que as transições não são acompanhadas por mudanças institucionais abruptas, o que eleva a previsibilidade e confiança.

Na mesma linha, o desenho institucional permite que o contexto econômico e político incentive escolhas responsáveis no curto prazo. O ciclo global desfavorável tende a penalizar gestões econômicas populistas, sendo um fator adicional para limitar as opções de políticas
públicas.

Além disso, o fato de as eleições serem altamente competitivas fazem com que o capital político do próximo governo dificilmente se eleve muito diante de um Congresso institucionalmente mais forte e independente. Não menos importante, a disputa eleitoral e a necessidade de se construir governabilidade força os partidos a buscar apoios mais ao centro, enfraquecendo as agendas mais radicais.

Supostamente, a maior estabilidade econômica e política local permitem tanto absorver melhor os impactos gerados por eventuais choques externos quanto criam condições para recuperações mais rápidas.

Esta tese será mais uma vez testada nos próximos meses, principalmente na questão fiscal. A combinação de acomodação no crescimento e na arrecadação, com pressão por reajustes dos servidores públicos, aumento dos investimentos do governo e ampliação dos programas
sociais irá ocorrer em um momento de mudanças de regras fiscais e dívida pública elevada e cara, colocando o tema fiscal como principal desafio de curto prazo.

O comportamento dos mercados e da economia ao longo dos últimos três meses pode ser um sinal. As projeções para o crescimento estão sendo revisadas para cima e bolsa, juros e câmbio mostram algum descolamento das turbulências externas. Seja como for, o mais importante é que as incertezas globais e a capacidade de o País resistir a choques certamente irão condicionar o ambiente econômico do próximo ano.

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