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Copom: a aposta em 2024

A estratégia de manter juros elevados por um tempo elevado pode não ser suficiente para alcançar a meta no próximo ano, gerando ruídos em torno da política monetária.

Com a alta da inflação no mundo, é natural que as atenções de mercado se voltem para os bancos centrais e suas estratégias monetárias. No Brasil não é diferente e os desafios para a convergência da inflação seguem elevados.

No curto prazo há poucas dúvidas que os juros devam continuar subindo. Os problemas na logística e nas cadeias globais de produção prosseguem, fazendo com que os choques globais sejam persistentes e pressionem os custos das empresas. A inflação ao consumidor no mundo continua elevada.

Localmente, a moeda brasileira voltou a mostrar desvalorização e a expansão fiscal impulsiona a economia, sancionando mais repasses de custos. De fato, as expectativas de crescimento para o ano estão sendo revistas para cima e os núcleos de inflação seguem em alta, no patamar de dois dígitos. Na mesma linha, os preços de serviços continuam subindo, com o setor sendo beneficiado pela reabertura da economia.

Neste ambiente, a indexação da economia é incentivada. O padrão histórico mostra que períodos de inflação elevada apresentam aumento no coeficiente de inércia de preços.

Estes fatores, somados, fazem com que a convergência da inflação seja lenta e mantenham as expectativas para 2023 elevadas. Com a meta em queda, não parece provável que o BC consiga cumprir o teto pelo terceiro ano seguinte. Dado este cenário, a comunicação do Banco Central (BC) e o comportamento dos mercados, é bastante provável que haja uma nova alta de 0,5 ponto percentual na taxa básica na próxima reunião.

O desafio é saber se a estratégia já comunicada pelo BC de manter os juros nominais parados a partir daí, por um longo período, basta para fazer a inflação voltar para o centro da meta. Ajuda o fato de a alta de preços estar, finalmente, mostrando inflexão. Depois de alguma estabilidade na casa de 12%, é possível que o IPCA acumulado em 12 meses inicie uma trajetória de queda.

Contribui também a reação dos principais bancos centrais no mundo, criando condições para um cenário de desinflação. Há vários sinais de desaceleração econômica na Europa e Estados Unidos e a continuidade do aperto monetário deverá encarecer o crédito e reforçar uma fase de desaquecimento no ciclo econômico.

Reflexo deste ambiente, os preços de commodities já mostram queda há dois meses, com o petróleo voltando a oscilar mais próximo a US$ 100/barril. O melhor desempenho da inflação no curto prazo pode fazer com que as expetativas para o próximo ano parem de subir, até porque, neste contexto desinflacionário, a manutenção dos juros implica um aperto monetário adicional em termos reais.

Outro aspecto a favor da estratégia do BC é que a confirmação do início de um processo de desinflação poderia reduzir a pressão por mais alta de juros. Vale lembrar que desde que o IPCA voltou a se acelerar no segundo semestre de 2020, o mercado de juros tem sido guiado mais pelo comportamento dos índices de preços que pela comunicação da autoridade monetária.

O consenso de mercado, no entanto, é que esta convergência não é suficiente para alcançar a meta em 2023. A mediana das expectativas mostra uma Selic em 13,75% ao final deste ano e uma projeção de 5,30% para o IPCA de 2023.

Neste caso, está subjacente a hipótese de que o BC irá aceitar uma convergência lenta da inflação, com o IPCA alcançando a meta apenas em 2024. O problema é que ainda que a autonomia formal do BC atue no sentido de preservar a credibilidade na gestão, a comunicação tende a ser ruidosa. O histórico do País dificulta a diferenciação entre volta gradual da inflação ou simples tolerância inflacionária, dúvida que pode ganhar força em um momento de transição política. A aposta em 2024, portanto, não está livre de riscos.

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