A desinflação global abre espaço para a continuidade de cortes de juros no Brasil e, com isso, para o reaquecimento do mercado de crédito local.
Roberto Padovani
Março 2024
Os próximos meses deverão ser marcados no Brasil pela continuidade da redução dos juros e, como resultado, pelo reaquecimento do mercado de crédito. Neste cenário, os principais negócios do banco BV devem ser beneficiados.
Esta história já começou a ser contada fora do País. Com os bancos centrais na Europa e Estados Unidos firmemente comprometidos em trazer a inflação para a meta e a desaceleração estrutural que se observa na China na última década, o crescimento global mostra desaceleração e contribui para a redução do risco inflacionário.
Este quadro não é ruim para economia brasileira. Embora exista um movimento de baixa nos preços internacionais de matérias-primas, o fato de o Brasil ter se transformado em um exportador global de commodities sustenta os novos patamares recordes da balança comercial e favorece os fluxos de comércio, ancorando o câmbio.
Não menos importante, as reformas feitas nos últimos anos podem ser um dos fatores por trás das contínuas surpresas em relação ao crescimento local. A economia brasileira vem se mostrando resistente a choques em um mundo mais confuso.
Com câmbio estável e menores pressões de custos, a inflação no Brasil também se mantém controlada, abrindo espaço para que o Banco Central continue cortando a taxa básica de juros. Juros em queda reduzem o custo financeiro das empresas e contribuem para diminuir tanto o endividamento quanto o comprometimento de renda das famílias.
Não por outro motivo, a inadimplência no segmento de recursos livres para pessoa física já voltou para a média histórica e a de pessoa jurídica já traz os primeiros sinais de melhoria. Da mesma forma, com taxas de desemprego em níveis historicamente baixos e expansão fiscal, as condições de renda seguem favoráveis.
Exportações, renda e crédito, por sua vez, ajudam a sustentar a confiança dos agentes, permitindo o fortalecimento das condições de consumo e investimentos. Isso significa que, ainda que se confirme um quadro de menor produção agrícola em 2024, a expectativa é uma aceleração gradual da economia ao longo dos próximos trimestres.
Com o crescimento liderado pela recuperação do crédito, o desempenho setorial e regional deve ser mais homogêneo, mesmo que o ritmo médio de expansão do PIB seja menor em relação aos últimos anos.
Este cenário de retomada econômica, no entanto, tem seus desafios. O primeiro deles é que o processo de desinflação global é desconhecido, o que pode fazer com que os bancos centrais sejam mais cautelosos e mantenham os juros elevados por mais tempo, esfriando mais que o esperado a economia mundial.
Neste ambiente, temas como risco bancário nos Estados Unidos, tensões geopolíticas no mundo e incertezas fiscais no Brasil podem voltar a preocupar investidores, impactando fluxos de capitais e pressionando o câmbio. Um cenário global mais adverso poderia implicar cortes mais graduais de juros e pior desempenho da renda e da confiança.
Vale lembrar também que os níveis de endividamento seguem elevados, o que dificulta uma retomada rápido do crédito. O que chama atenção, no entanto, é que embora o ritmo de crescimento possa ser uma dúvida, a principal história dos próximos meses é que a economia brasileira tem se mostrado mais resistente a choques. Com crescimento preservado, as incertezas políticas e financeiras se reduzem e reforçam um quadro de maior estabilidade.
Ao final, a fase do ciclo de crédito é favorável e as áreas de atacado, varejo e produtos de alto crescimento do banco devem surfar um momento mais positivo.