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Crise financeira continua

Nov/17 - Enquanto as famílias já mostraram redução no endividamento, o ajuste nas empresas continua e atrasa a superação da crise financeira

Enquanto as famílias já mostraram redução no endividamento, o ajuste nas empresas continua e atrasa a superação da crise financeira

(Texto publicado em 14 de novembro de 2017)

Enquanto os sinais mais claros de recuperação se concentram nas famílias, o setor corporativo ainda atravessa uma difícil crise financeira. (Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília/Creative Commons)

Apesar dos bons sinais de recuperação da economia, com a maior parte dos indicadores mostrando que a recessão já foi superada, a crise financeira prossegue e deve limitar o ritmo do crescimento ao longo dos próximos trimestres.

Há alguns meses, desemprego elevado, inflação alta e ociosidade nas empresas estimulavam o debate sobre quais seriam os motores para tirar a economia da recessão. A resposta veio ao longo deste ano, com uma surpreendente e substancial queda da inflação, permitindo ao Banco Central um igualmente expressivo corte na taxa de juros. Junto a um ambiente global favorável e a continuidade da volta da confiança, tornou-se possível trazer alívio financeiro para empresas e famílias, revertendo o ciclo recessivo.

O mercado de crédito, no entanto, não tem refletido este ambiente de forma homogênea. Embora os spreads cobrados de famílias e empresas estejam mostrando queda e já se aproximem de suas médias históricas, acompanhando a redução dos juros, os sinais mais claros de recuperação se concentram nas famílias. O setor corporativo ainda atravessa uma difícil crise financeira.

Esta diferença de desempenho pode ser explicada pelo fato de as famílias já terem realizado o ajuste patrimonial necessário, enquanto nas empresas este processo ainda não se encerrou.

De fato, o recuo do endividamento observado desde 2012 permitiu às famílias se beneficiar de modo mais expressivo da recente queda da inflação e dos juros. Com alguma recuperação dos rendimentos e menores custos financeiros, o comprometimento de renda com o pagamento de dívidas mostrou queda, a despeito de níveis ainda elevados de desemprego.

Como resultado, a inadimplência está abaixo da média dos últimos anos, permitindo o aumento da demanda e da oferta de crédito. Em termos reais, tanto as concessões quanto as carteiras para pessoa física já mostraram reversão de tendência.

Diferentemente, o crédito corporativo continua travado, sem sinais claros de recuperação. Em meio ao ajuste patrimonial demandado pela crise financeira que se instalou após 2014, a fragilidade no faturamento das empresas e a consequente necessidade de caixa estimulam a busca por recursos, como indicam os dados de demanda por crédito do Serasa e o aumento das emissões de debêntures no mercado de capitais. Os números do BNDES também sugerem que a necessidade de financiamento para capital de giro ainda tem sido maior que para investimentos.

Porém, mesmo com o relaxamento mais geral das condições financeiras na economia e alguma recuperação do faturamento, observado mais na indústria que no comércio, a inadimplência e os pedidos de recuperação judicial seguem elevados. O resultado é a manutenção de critérios conservadores na concessão de crédito, principalmente para pequenas e médias empresas. Da mesma forma, as graves restrições fiscais limitam a oferta do crédito público e reforçam a espiral negativa entre inadimplência e acesso a crédito.

Com uma situação corporativa ainda frágil, eventuais instabilidades nos mercados financeiros geradas por riscos globais e políticos tornam o ambiente ainda mais arriscado, reforçando a atual cautela na oferta de crédito.

Este quadro mostra como as crises financeiras tem digestão lenta e podem atrasar a recuperação das economias. Enquanto a volta do crédito para as famílias ajuda a explicar o desempenho do consumo registrado a partir do segundo semestre do ano passado, a recuperação em curso não parece suficiente para permitir às empresas a normalização de suas condições financeiras, contribuindo para a lentidão na retomada dos investimentos.

O lado bom desta situação é que uma recuperação econômica mais gradual mantém o incentivo para gestões responsáveis de governo, elevando a previsibilidade ao mesmo tempo em que se ancoram inflação e juros em patamares baixos.

Neste caso, é possível que a persistência de condições financeiras menos restritivas e a continuidade da recuperação das vendas e do faturamento favoreçam a situação de caixa das empresas, reduzindo a inadimplência e permitindo a volta do crédito. Cria-se uma nova dinâmica, um círculo virtuoso em que inadimplência e concessão de crédito se reforcem de modo positivo.

O único problema é que, como temos visto, este é um processo lento. Justamente por isso, embora a crise financeira das empresas não impeça a retomada do crescimento econômico, dada por um amplo alívio financeiro, certamente limita a velocidade, a recuperação da produção e da geração de empregos.

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