Ajustes na economia, reformas e responsabilidade de gestão indicam ciclo longo e favorável de crescimento nos próximos anos
O ambiente de curto prazo ainda oferece alguns riscos importantes, como a retirada de estímulos pelos principais bancos centrais, a fragilidade fiscal doméstica e o ciclo eleitoral do próximo ano.
Mas apesar dos ruídos, há dois bons motivos para se acreditar em um ciclo econômico e político favorável à frente: a recessão tem permitido um ajuste importante na economia e há incentivos para a continuidade de uma gestão responsável. Como resultado, o país deverá apresentar aceleração do crescimento e estabilidade política, exatamente o oposto do observado nos últimos cinco anos.
Do ponto de vista econômico, os custos de produção mostraram recuo com o uso menos intenso da infraestrutura e do mercado de trabalho. Da mesma forma, o aumento cíclico da produtividade, a inflação baixa e o alívio financeiro gerado pela queda expressiva da taxa de juros permitem a recuperação dos lucros das empresas e do consumo das famílias.
Não menos importante, os erros de gestão do passado recente levaram a avanços institucionais, como a regra que define um teto para o gasto público, a retomada da privatização, a criação da TLP e a reforma trabalhista, dentre outros. Estes avanços representam uma memória dos aprendizados da crise e uma herança positiva, reforçando o aumento da produtividade, a volta do crescimento e a resistência da economia a choques e a gestões populistas.
O segundo motivo para se acreditar em um ciclo favorável é o fato de haver incentivos para a continuidade de uma gestão econômica responsável, que avance em reformas e traga estabilidade, previsibilidade e confiança. Isso deve ser observado tanto durante o processo eleitoral do próximo ano quanto após 2018.
Em relação às eleições de 2018, a volta do crescimento, mesmo que gradual, reduz o desconforto econômico e a rejeição da população ao sistema político. Com isso, faz sentido que a demanda por discursos populistas seja inversamente proporcional à recuperação da economia, controlando os riscos de surpresas no processo eleitoral.
Mais importante, mesmo após a eleição presidencial, a retomada não exuberante da economia brasileira, acompanhada por sérias restrições fiscais, reduz o espaço para políticas populistas.
É possível que a atual recuperação cíclica faça com que a economia alcance seu potencial apenas em 2020. Só então, a taxa de desemprego estaria rodando próxima à média histórica de 11,0%. Da mesma forma, com limites para cortar despesas e elevar receitas, não restará alternativa para se controlar a dívida pública que não a privatização e a reforma da previdência.
Há também restrições globais. A experiência histórica na América Latina mostra elevada correlação entre exuberância global e populismo. Como estamos diante de um cenário de redução da liquidez internacional e de continuidade da desaceleração da economia chinesa, dificilmente veremos ganhos expressivos e prolongados nos termos de troca, como observado nas décadas de 50, 70 e, mais recentemente, nos anos 2000.
Isso significa que o novo governo, mesmo com mais capital político e melhores condições de coordenar a coalizão no Congresso, deverá continuar enfrentando restrições nas escolhas de política. Este quadro reforça a necessidade de avanços no programa de privatização e em reformas, como a tributária e da previdência, além de ser um estímulo para a continuidade do controle da inflação e das contas públicas.
Com pouco espaço para populismo, a previsibilidade do ambiente econômico reforça a própria trajetória de recuperação e permite melhores condições de governabilidade.
Considerando nosso padrão histórico, em que os ciclos duram em média 10 anos, então tudo indica que o próximo período presidencial será marcado por elevado crescimento e estabilidade política.