O CDS talvez não seja um bom termômetro neste momento, apesar de historicamente antecipar mudanças na classificação de risco
Postura cautelosa de agências está associada à euforia dos mercados internacionais (Foto: CreditDebitPro.com/Creative Commons)
Pode parecer estranho, mas os níveis correntes de preços de ativos financeiros no Brasil são compatíveis com uma economia classificada como grau de investimento.
O comportamento do CDS (Credit Default Swaps, espécie de seguro contra inadimplência) avalia continuamente o risco soberano e, historicamente, antecipa as mudanças na classificação de risco soberano feito pelas agências de rating. Atualmente, o CDS oscila ao redor dos 180 bps, próximo à média observada de 150 bps registrada entre 2007 e 2014, período em que o País era considerado grau de investimento pelos investidores. Essa é a avaliação corrente nos mercados financeiros e reflete a intensidade do otimismo presente.
Há dois fatores principais que tradicionalmente movem o CDS: a liquidez global e as contas externas. Por um lado, existe ampla disposição dos investidores internacionais em correr risco e, com isso, em continuar financiando a economia brasileira. O crescimento global e as condições ainda favoráveis de liquidez elevam a confiança e estimulam a busca por risco. De fato, a aversão a risco medida pela volatilidade da bolsa norte-americana está em um de seus níveis mais baixos em três décadas.
O segundo fator é a boa posição das contas externas do País, com uma balança comercial superavitária e elevado nível de reservas internacionais. Com isso, a capacidade de o governo brasileiro honrar seus compromissos em moeda estrangeira aumenta e traz alguma tranquilidade aos investidores.
Outros fatores também ajudam neste momento. Acredita-se que um candidato comprometido com uma gestão responsável da economia e com a continuidade do avanço das reformas seja o mais competitivo nas eleições presidenciais do próximo ano. Como resultado, a reforma da previdência poderia caminhar e, mesmo com atraso, haveria capacidade em se controlar as despesas públicas e estabilizar a dívida no médio prazo.
Deste modo, embora o desempenho das contas públicas e da dinâmica de dívida preocupe no curto prazo, a percepção de um baixo risco político faz com que os investidores mantenham um cenário em que não haja descontrole no endividamento e no risco fiscal.
Finalmente, há a leitura que o País já teria mostrado sua capacidade de fazer reformas. Os últimos meses mostraram expressivos avanços institucionais, com reformas fiscais e medidas que elevam a produtividade e estabilizam o ambiente econômico. Junto com o otimismo global, o País teria crédito para fazer a travessia até o próximo governo.
Mas, como em todo cenário, há riscos relevantes. Mesmo com todos os avanços, o fato é que a postergação da reforma da previdência é um risco para a dinâmica de dívida. Além disso, a retomada da economia deve fazer com que as importações mostrem recuperação, reduzindo a capacidade de o país gerar recursos em moeda forte.
Outra questão são as incertezas associados ao quadro político. É verdade que a retomada do crescimento reduz a demanda por soluções populistas, ao mesmo tempo em que as restrições econômicas ainda elevadas restringem as escolhas de políticas públicas do próximo governo. Mas do ponto de vista de dinâmica de preços de ativos, parece estranho que em uma eleição tão fragmentada e com candidatos que defendam agendas não responsáveis os investidores atribuam baixas probabilidades a resultados adversos.
Neste ambiente, o quadro externo preocupa. A história mostra que os humores dos investidores mudam muito rapidamente, principalmente em um cenário como o atual. Riscos geopolíticos, tendência de queda de preços de commodities e reorientação da estratégia de políticas pelos principais bancos centrais podem trazer turbulências para os mercados emergentes.
Justamente por estes riscos estarem presentes, parece muito pouco provável que as agências de rating estejam dispostas a já indicar avanços na classificação do risco soberano brasileiro. Tradicionalmente, as agências decidem a partir de uma convicção mais clara para a trajetória de dívida e, diante de todos os riscos, parece muito cedo acreditar em uma mudança ou sinal de mudança neste momento.
Esta postura mais cautelosa das agências sugere que a atual disposição em financiar o Brasil talvez esteja menos ligada à nossa capacidade de atrair recursos e mais associada à euforia presente nos mercados internacionais, fazendo com que o investidor seja mais tolerante aos riscos. Nossa dívida não se estabilizou e as eleições do próximo ano representam um risco importante para a dinâmica fiscal.
Não há como negar que o cenário parece amplamente positivo. Mas ainda temos uma longa e arriscada travessia à frente. Neste caso, o prêmio de risco dos mercados não pode ser tomado como um bom termômetro da saúde da economia neste momento. Ele parece refletir mais a euforia global.