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Nossa próxima crise

Abr/17 - Apesar da tensão com as eleições presidenciais do próximo ano, tudo indica que nosso verdadeiro risco estará na transição seguinte, no mandato que se inicia em 2022

Apesar da tensão com as eleições presidenciais do próximo ano, tudo indica que nosso verdadeiro risco estará na transição seguinte, no mandato que se inicia em 2022

 

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Conclusão sugere que novos ciclos de commodities criem condições para novas experiências populistas (Foto: Creative Commons)

Como todas as economias, o Brasil tem enfrentado de tempos em tempos crises econômicas importantes, normalmente acompanhadas por instabilidades políticas. A cada 10 anos, em média, euforia e depressão se alternam em nossa história.

A teoria econômica acredita que as flutuações cíclicas ocorrem a partir de mudanças temporárias na produtividade, desviando o crescimento de sua trajetória de longo prazo ao afetar defasadamente variáveis como emprego e consumo. No caso brasileiro, Eliana Cardoso e Vladimir Teles já mostraram que a produtividade é influenciada pelo comportamento cíclico dos termos de troca e dos fluxos de capitais.

Mas os ciclos políticos populistas também influenciam a produtividade, sendo um agravante importante das flutuações na América Latina. As fases de expansão criam espaço para estímulos fiscais e monetários. Mas quanto maiores a fragilidade institucional e a ansiedade por crescimento e distribuição de renda, mais os estímulos são usados em intensidade e duração maiores que o necessário em momentos de reversão econômica.

Ao mesmo tempo, os governos populistas dão pouca ênfase a reformas que ampliem a produtividade, como infraestrutura, educação e melhorias no ambiente de negócios, fazendo com que os estímulos excessivos de curto prazo conduzam a inflação e desequilíbrios no balanço de pagamentos.

Os ciclos de commodities e a euforia trazida pela expansão econômica, portanto, tendem a gerar políticas populistas marcadas por perda de racionalidade na gestão da economia e a uma piora na qualidade das políticas públicas, reforçando o choque adverso na produtividade e ampliando a flutuação econômica. O resultado são os exageros dos chamados ciclos de “expansão e colapso”.

AVANÇOS INSTITUCIONAIS

Estes movimentos são comuns em países produtores de commodities. Como a produção de matérias primas exige poucos investimentos em educação e geram receitas elevadas para a sociedade, há menos incentivos para avanços institucionais e para a construção de um ambiente de negócios favorável ao investimento, fundamental para se criar outros motores de crescimento durante a reversão dos ciclos de commodities e dos fluxos de capitais.

Não foi diferente agora. Após uma década de ajustes, o ciclo populista iniciado em 2006 não favoreceu os investimentos em infraestrutura e piorou o ambiente de negócios, com o retrocesso na regulação e no sistema tributário. Ao mesmo tempo, a crise global de 2008, com a consequente reversão dos termos de troca, levou o governo a tentar sustentar o crescimento a qualquer custo, o que resultou nos conhecidos excessos fiscais. A expansão recente do crédito, da mesma forma, ampliou as fragilidades e instabilidades financeiras, acelerando a crise.

A ideia de que nossos ciclos econômicos sejam fortemente influenciados pelos termos de troca e pelo populismo econômico permite duas conclusões principais. A primeira é otimista e mostra que a atual crise econômica tende a limitar as escolhas de políticas públicas. Com isso, os próximos anos deverão continuar sendo marcados por reformas, avanços na infraestrutura e responsabilidade na gestão macro.

A segunda conclusão é pessimista e sugere que novos ciclos de commodities criem condições para novas experiências populistas, relaxando os avanços das reformas e da responsabilidade na gestão econômica. Por um lado, a intensidade das próximas crises pode ser suavizada por avanços institucionais, uma forma de cristalizar memórias e aprendizados das crises e que permite, no médio prazo, restringir a discricionariedade nas escolhas das políticas.

Por outro, avanços apenas modestos na produtividade em um mundo que vive uma revolução tecnológica fazem com que as flutuações cíclicas se transformem em deslocamento da trajetória de crescimento de longo prazo, reduzindo de modo permanente nossa capacidade de crescer.

O crescimento global e a atual reversão das políticas populistas, portanto, podem criar as condições necessárias para nossa próxima crise. Apesar da tensão com as eleições presidenciais do próximo ano, tudo indica que nosso verdadeiro risco estará na transição seguinte, no mandato que se inicia em 2022.

 

(Foto: Creative Commons)

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