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O teste das reformas

Com menores estímulos e sem a presença de choques favoráveis, novas surpresas no crescimento em 2024 serão um sinal da importância das reformas.

Roberto Padovani
16 de janeiro 2024

Uma das características dos cenários dos últimos anos no Brasil têm sido as persistentes surpresas positivas no crescimento, uma variável que não costuma trazer grandes novidades.

Parte do viés negativo das projeções se justifica pelo histórico recente. Houve, entre 2000 e 2020, frustração com o crescimento em 62% dos anos, resultado influenciado tanto pela perda de fôlego da expansão chinesa depois de 2011 quanto pela recessão de 2014 no Brasil, com seus efeitos prolongados sobre a economia. Além disso, a formação bruta de capital fixo interrompeu a recuperação vista depois da pandemia, mantendo-se em níveis baixos.

O PIB observado nos últimos quatro anos, no entanto, conta outra história. A recessão em 2020 foi menor que a esperada e os resultados vieram melhores em 2021 e 2022. Em 2023, enquanto a mediana das projeções em janeiro estava ao redor de 0,8%, dezembro mostrou um valor próximo a 2,9%.

Estes erros sistemáticos podem ser explicados por uma combinação de estímulos econômicos incomuns, choques favoráveis e reformas. O problema é separar estes efeitos.

O ineditismo e a intensidade dos estímulos na pandemia respondem por parte das surpresas. Foi um período marcado por redução de juros, injeção de liquidez e aumento de gastos, movimentos feitos de modo simultâneo em todo o mundo.

O mercado de trabalho tem sido outra boa novidade em várias economias, uma combinação de aumento da demanda por trabalho com redução da oferta de mão de obra ainda não plenamente compreendida. Com isso, a taxa de desemprego segue em patamares historicamente baixos, favorecendo renda e consumo mesmo com juros elevados.

No Brasil, as reformas da previdência, trabalhista e tributária, além da autonomia do Banco Central e das mudanças de marcos regulatórios em setores importantes, foram mudanças que podem reduzir custos e construir um ambiente de estabilidade e previsibilidade. Ainda que seja difícil estimar quantitativamente os impactos de todas as mudanças sobre o PIB, faz sentido que a agenda permita atrair investimentos e elevar a produtividade e competitividade do País.

Ao mesmo tempo, a mudança de patamar da balança comercial após a pandemia sugere que o agronegócio brasileiro continua sendo um destaque em termos de produtividade, consolidando o Brasil como grande produtor e exportador global.

Somados, todos estes fatores explicam as surpresas no crescimento. O cenário de 2024, porém, poderá ajudar a isolar o efeito específico das reformas. Pela primeira vez nos últimos anos, os impulsos de curto prazo tendem a ser menores. Espera-se a continuidade da retirada de boa parte dos estímulos fiscais e monetários nas principais economias, levando a um quadro de desaceleração. O menor crescimento estrutural na China também reduz as chances de um novo ciclo favorável de commodities.

Localmente, questões climáticas devem atrapalhar a produção agrícola, a intensidade dos estímulos fiscais pode não se repetir e as condições financeiras devem continuar apertadas em boa parte do ano. Não menos importante, o mercado de trabalho já dá sinais de estabilização.

Isso significa que caso haja uma nova surpresa no PIB, mesmo com um cenário de menores estímulos, baixo carregamento estatístico e estimativas iniciais bem mais positivas, então os números podem estar indicando, efetivamente, que a agenda de reformas dos últimos fez a diferença e representa uma inflexão no crescimento brasileiro. Vai ser um bom teste.

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