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Desaceleração global eleva riscos

Os resultados econômicos melhores que o esperado nos Estados Unidos, que ainda mostram taxas de desemprego em níveis historicamente baixos, têm permitido a leitura de uma desaceleração global suave e de curta duração. Por outro lado, no entanto, as dificuldades na China e na Europa, além de indicadores antecedentes preocupantes, podem corrigir parte do atual otimismo e elevar o risco dos mercados.

Os indicadores globais de crescimento poderão mostrar um quadro mais claro de desaceleração ao longo os próximos meses e elevar o risco dos mercados.

Roberto Padovani
8 de agosto 2023

O otimismo presente nos mercados financeiros internacionais nas últimas semanas pode ser explicado pela confiança dos investidores em um novo equilíbrio econômico baseado em inflação em queda e crescimento preservado.

De fato, a superação dos choques em preços agrícolas, energia e bens industriais ao longo do último ano permitiu que a inflação mostrasse inflexão. No caso norte-americano, o índice ao consumidor apresenta queda expressiva, saindo do patamar de 9,0% para 3,0%. Na Europa, o dado recuou de um nível de quase 11,0% para algo mais próximo a 5,0%.

Mais importante, a leitura majoritária é que a redução do risco inflacionário não deverá implicar uma desaceleração econômica acentuada. Por um lado, há consenso de que, depois da parada em 2020 e da forte recuperação em 2021, a retirada dos estímulos concedidos durante a pandemia irá levar a um desaquecimento da economia internacional.

As últimas projeções do FMI mostram que o PIB na zona do Euro deverá desacelerar de 3,5% em 2022 para 0,9% neste ano, enquanto, na mesma comparação, os Estados Unidos deverão sair de um crescimento de 2,1% para 1,8% e a economia global poderá recuar de uma expansão de 3,5% para 3,0%.

Por outro lado, no entanto, há certo alívio nas condições financeiras e a taxa de desemprego tem surpreendido, operando em patamares historicamente baixos na Europa e nos Estados Unidos. Em conjunto com dados norte-americanos recentes melhores que o esperado, prevalece a leitura de uma desaceleração cíclica mais moderada e de curta duração, o chamado soft landing.

Neste contexto, a simultaneidade de indicadores positivos e negativos, natural em momentos de inflexão do ciclo, abre espaço para que os dados mais fracos fiquem em segundo plano, podendo levar a uma subestimação dos riscos do desaquecimento à frente.

Parece ser o caso agora. Vale lembrar que, nos Estados Unidos, a produção industrial e o varejo apresentam uma clara trajetória de desaceleração, além das quedas observadas nas vendas de casas, piora nos números de construção e recuo dos preços de imóveis. Na Europa, apesar de um desempenho industrial melhor, o comércio já mostra contração e a confiança dos agentes não indica recuperação, como no caso norte-americano.

Agrava o problema o fato de os indicadores antecedentes sugerirem continuidade da perda de fôlego da economia. As pesquisas de gerentes de compras (PMI) na indústria voltaram a sinalizar contração nos Estados Unidos, Europa e China. Mesmo com um quadro melhor em serviços, os sinais também são de desaceleração. À exceção dos choques de 2008 e 2020, o ISM, indicador que antecipa o PIB norte-americano, está em seu patamar mais baixo em duas décadas.

Na China, há frustração com a retomada após a reabertura da economia. Restrições na oferta de mão de obra, problemas financeiros no mercado imobiliário, incertezas geopolíticas e dúvidas sobre novos estímulos fiscais(1) podem reforçar o desaquecimento global.

Parte do otimismo já pode estar sendo corrigido. As divulgações de indicadores na Ásia e na Europa têm sido piores que as estimativas e, nos Estados Unidos, resultados melhores que o esperado não mudam um quadro de desaceleração.

Portanto, embora os dados de mercado de trabalho ajudem a suavizar o ciclo, é possível que os efeitos defasados de uma política monetária globalmente mais sincronizada se espalhem por toda a economia e os indicadores de atividade passem a ser mais homogeneamente negativos. Com menor expansão global, o otimismo com a inflação deverá se manter, mas a visão mais positiva de atividade poderá ser parcialmente corrigida.

Esta correção, por sua vez, pode não ser neutra para os mercados financeiros. Um cenário de dúvidas sobre o crescimento tende a atrapalhar os fluxos para ativos de risco e trazer volatilidade para bolsas e mercados emergentes. Desaceleração global não costuma ser boa notícia.

1 Koo, R., “China’s balance sheet recession and structural problems in light of 1990s Japan”,
Jul/23, Nomura.

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