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20 anos depois

Há hoje maiores restrições nas escolhas de políticas econômicas que há 20 anos. Isso não implica, no entanto, que o ambiente siga ruidoso.

Há hoje maiores restrições nas escolhas de políticas econômicas que há 20 anos. Isso não implica, no entanto, que o ambiente siga ruidoso.

Os últimos dias foram marcados por fortes preocupações dos investidores em relação à gestão econômica do próximo governo. As restrições a serem enfrentadas agora, no entanto, são maiores que as de 2003, o que implica que mudanças súbitas na agenda possuem custos elevados e incentivam posturas mais cautelosas.

A primeira grande diferença em relação a 2003 está no quadro externo. Depois do estouro da bolha de tecnologia em 2000, a economia global mostrou contração em 2001, reversão em 2002 e voltou a crescer acima da média histórica em 2003. A não ser pela crise bancária norte americana de 2008, que produziu impactos temporários nos mercados emergentes, o período de 2003 a 2010 foi marcado por um ambiente internacional de crescimento e liquidez favoráveis para o Brasil.

Neste momento, ao contrário, a economia mundial não está saindo de uma recessão, mas entrando em uma fase de desaceleração cíclica. A combinação de tensões geopolíticas com alta de inflação e juros implicam baixo crescimento e menor liquidez, o que eleva a aversão a
risco dos investidores. Neste cenário propenso a acidentes, erros de gestão locais tendem a ser mais rápida e intensamente punidos pelos mercados internacionais.

Outra diferença importante em relação a 2003 está no endividamento público. Embora a dívida bruta ao final de 2002 tenha alcançado o patamar de 76% do PIB, próximo ao atual, sua dinâmica era explicada por fatores temporários. As agudas incertezas globais e políticas
domésticas colocaram o risco soberano em níveis recordes e pressionaram o câmbio, os juros e a dívida. Mas tão logo a situação externa melhorou e o governo desfez as preocupações dos investidores com sua agenda econômica, a dívida entrou em uma trajetória de queda.

Neste momento, os fatores por trás da dinâmica de dívida parecem mais duradouros. A dívida pública elevada e cara encontra a pressão social por maiores gastos em um contexto internacional desfavorável e de provável acomodação no crescimento e na arrecadação.
Fatores que não podem ser facilmente contornados com sinais do novo governo, como em 2003. Não há, agora, uma crise de confiança que possa ser rapidamente superada.

Nesse ambiente global e fiscal, as escolhas de políticas podem ter custos elevados. As oscilações de mercado dos últimos dias comprovam a tese de que discursos e ações políticas que apontem para uma estratégia de aumento do endividamento do governo serão punidos
pelos investidores, penalizando variáveis centrais como câmbio, juros e crescimento. Com mais desemprego, o quadro político tende a ser também negativamente impactado.

Estes custos incentivam a preservação de uma agenda econômica racional. Assim como mostrou a experiência dos últimos meses, a própria instabilidade financeira pode se constituir em uma restrição às escolhas de políticas. Não deixa de ser interessante como os movimentos
de mercado tiveram ampla repercussão, estimulando respostas de várias lideranças políticas. Ajuda também o fato de haver hoje maiores restrições institucionais. O teto de gastos tornou-se uma referência importante, o Banco Central é formalmente independente e o BNDES não
conta mais com espaço para subsidiar os juros.

Da mesma forma, o ambiente político mostra equilíbrio de forças. Não apenas as eleições foram as mais competitivas desde 1989, mas os protestos recentes mostram que a sociedade ainda está tensa e dividida. Em conjunto com um cenário econômico de desaquecimento, o
início de governo pode ter uma lua de mel curta, limitando o capital político do governo. Algo parecido com as experiências de 1995 e 2014.

Ao mesmo tempo, o Congresso se mostra institucionalmente mais independente e ideologicamente não alinhado, o que reforça a necessidade de negociação de cargos e de agenda de governo com outras forças políticas do País.

Como resultado, a combinação de ciclo global desfavorável, incertezas fiscais, restrições institucionais e maior equilíbrio das forças políticas tende a limitar o leque de escolhas políticas e econômicas.

Neste caso, o fato de os sinais sobre a agenda econômica até o momento serem essencialmente políticos e ideológicos não conduz necessariamente a cenários de crise e ruptura. Do ponto de vista teórico, há incentivos para que o novo governo não tenha uma
estratégia econômica radicalmente diferente de seu antecessor.

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